Não-pesquisadores frequentemente têm uma ideia equivocada sobre a difícil tarefa de pesquisar. E já começo os esclarecimentos com as palavras que escolhi para descrever a tal “pesquisa”: em primeiro lugar, trata-se uma tarefa. Não é lazer. Não é glamour. Sim, existem os maravilhosos e infinitamente recompensadores momentos em um pesquisador se perde no seu próprio texto, empolgado com suas “descobertas” e estupefato com as ideias que parecem brotar dos livros, da cabeça, do computador; mas esses momentos só surgem depois de longas leituras (e no meio do livro você se pergunta por que estava mesmo lendo aquele autor) e de horas e horas sentada na frente de uma tela, muitas vezes olhando fixamente o cursor do editor de texto... piscando... sem saber que tecla apertar em seguida. “Só levanto daqui depois de escrever uma página, pelo menos”. E a tal página sai, sofrida, e me impressiono como na semana anterior vinte páginas foram escritas com muito menos esforço.
Explicar o adjetivo “difícil” agora parece
desnecessário, mas é preciso falar dele porque tem relação com a solidão da tal
“pesquisa”. Só você sabe o que já leu, o que ainda não leu e precisa ler, o que
está claro e o que ainda precisa ser elucidado (e eu já pedi que a resposta
viesse num sonho, em uma revelação bizarra do mundo dos grandes doutrinadores
falecidos, pela certeza de não conseguir mais imaginar uma solução sozinha), o
que está escrito e o que está por escrever.
A tarefa do pesquisador é especialmente difícil por
ser solitária: o sujeito passa a viver perdido nas suas próprias ideias e preso
num mundinho próprio. É certo que os momentos de preocupação solitária são
temperados com a já mencionada alegria e com entusiasmo (eu faço até uma
dancinha para comemorar esses instantes mágicos), mas ainda assim são dádivas
aproveitadas no isolamento. E é por isso que o melhor conselho do mundo a ser
dado a um pesquisador é: procure outros seres estranhos como você, que também
escolheram essa vida de estudos e escrita. Todos estão unidos pela mesma tarefa
solitária.
Estar em casa escrevendo num sábado à noite não se
torna prazeroso só por saber que há alguém na mesma situação que você, mas
dessa constatação surge um certo conforto, uma certa cumplicidade. E ao final
do trabalho vem a sensação de que tudo valeu a pena, de que todo o esforço foi
recompensado. E meu conselho serve para que a parte do esforço não seja tão
dura e difícil, somente por ter sido compartilhada. Pesquisadores, uni-vos!
Juliana Pondé Fonseca
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Direito da UFPR
Professora nas Faculdades Integradas do Brasil, UNIBRASIL
Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Direito da UFPR
Professora nas Faculdades Integradas do Brasil, UNIBRASIL
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